segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A lenda do velho de Unhais

Em tempos que já lá vão há muito, havia na aldeia de Unhais um homem já idoso e temente a Deus que, para cumprir os seus deveres de cristão, se via obrigado a percorrer todos os domingos longas distância até chegar a uma igreja onde pudesse ouvir missa. Era uma figura austera, conhecida em toda a região, que dava mostras duma fé profunda mas ao mesmo tempo eivada de tristeza por não lhe ser possível cumprir os preceitos religiosos na sua terra por nela não existir qualquer igreja e capela onde pudessem ser celebrados.
Nas suas andanças pela serra, calhou num domingo assistir à missa na igreja se Santa Maria Maior na cidade da Covilhã, distante da sua aldeia, por caminhos e atalhos, algumas dezenas de quilómetros. Cumprido o preceito dominical, encheu-se de coragem e dirigiu-se à sacristia para falar com o celebrante, a quem se lamentou do esforço e do sacrifício que fazia todos os domingos para cumprir as suas obrigações de fervoroso católico.
Comovido com tanta fé, mas não avaliando porventura, em toda a sua dimensão, a tenacidade  do velho unhaisense, o prior de Santa Maria prometeu-lhe a construção duma igreja na sua aldeia, na condição de durante um ano inteiro não faltar ali, na Covilhã, um só domingo para assistir à missa. O velho ainda hesitou em aceitar o repto, pensando na distância que teria de calcorrear todos os domingos do ano, mas confiante na força da sua fé acabou por aceitar o desafio.
E passou a ser uma presença domingueira naquela igreja, constituindo um exemplo de fé e de perseverança a suscitar admiração generalizada, até que, no derradeiro domingo do ano, um dia particularmente agreste e marcado por grande nevada, o prior, ao notar a ausência do unhaisense, esfregava as mãos de contente, pensando que se libertaria do compromisso assumido e dizendo para os paroquianos que “é hoje que o velho de Unhais falta à missa e assim não vai ganhar a igreja”. Mas não contava com a tenacidade do velho. Com o povo já cansado de esperar pelo início da cerimónia e quando o sacerdote, já paramentado, se aprestava para subir ao altar, eis que entra na igreja o “velho de Unhais”, encharcado até aos ossos e cansado da longa e fatigante viagem em condições climatéricas tão adversas.
Sacudindo com gestos largos o albornoz que o defendera da neve e do frio e acomodado a um canto, ao fundo da igreja, como era seu hábito, o velho unhaisense, com voz rouca e cansada de serrano calejado na dureza da sua faina quotidiana, ainda teve forças para gritar bem, alto “cá está ele, o velho de Unhais, ganhei a igreja para a minha terra”.
E terá sido esta lenda, bonita e simples como são todas as lendas, que a velha igreja paroquial foi erguida e a povoação de Unhais se passou a chamar Unhais o Velho, derivando mais tarde para a designação atual de Unhais-O- Velho.



Pesquisa e adaptação de Leonor Brito, 5ºA, nº 15

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